# Distinguir

Penso várias vezes no porquê disto. De um blog.
Mas mais ainda, penso no para quê.


Tenho a sorte da Susana ter aparecido na minha vida, do nada. Combinámos um café - curiosamente na noite do concerto da banda que desperta o melhor de mim e o que mais tem a ver com aquilo em que acredito.
Nesse final de tarde fui eu. Sem filtros e sem vergonhas. E tive a certeza absoluta que a Susana é a melhor pessoa que conheço no mundo.


Dou por mim a pensar nela como um E.T. Não há ninguém com tamanha bondade. Há miudas com 20 anos que querem virar o mundo ao contrario para ajudar os outros - mas não há quem o faça na realidade, para além da Su.

Há uns meses, estava eu absorvida pela loucura da cidade dos estudantes e a Susana ligou-me a chorar de uma forma bastante familiar. Soube exatamente o que ela estava a sentir, porque aquela aflição também já tinha sido minha. Nesse momento metade de mim quis salvar a Susana. A outra metade continuou sentada na cama, fechada no quarto de uma casa cheia da excentricidade pré-queima das fitas.
Nesse dia falhei com ela e falhei comigo mesma. Deixei-me consumir pelo egoismo e pela felicidade de não ser engolida por problemas, quando devia ter apanhado o primeiro autocarro para Lisboa e ir ter com ela. Tenho a certeza que era o que ela faria. Não comigo, mas com qualquer pessoa que visse em tamanha aflição.

Quando a vi depois disso, não a reconheci. É assustador como há coisas que nos consomem de tal forma que nos roubam a identidade. Naquele dia não era a Susana.
Disse-lhe: "Daqui a uns meses ainda te vais rir muito disto!"

Eu sabia que era verdade - já se tinha passado comigo. Rir não seria de graça, mas de alivio.
Só não esperava que fosse desta forma: tão rápido.


Realmente todos nós, em todas as situações, temos duas opções: deixarmo-nos consumir ou reagir. Conhecendo a Susana como conheço, só havia um caminho.
Resultou num livro.



Li-o a noite passada de uma vez.
E senti-me realmente priviligiada.
Se há anjos na terra, a Susana é um deles. Ela é tudo o que há de diferente. De forma quase inacreditável.


E olha para mim de uma forma diferente. Ela não vê a Bia com mau feitio. Ou provavelmente vê, mas é a única pessoa que conheço que não me olha como se essa fosse a minha principal característica.

Há poucos dias, uma das pessoas que mais gosto no mundo disse-me que eu já não era o que ele achava quando me conheceu. Não sei precisar as palavras, mas a ideia geral é que - afinal - eu era muito mais vulgar do que ele algum dia tinha achado.
Foi a pior critica que me podia fazer.
Passei os dias seguintes a pensar se teria ele razão. Se eu me teria deixado consumir pela vulgaridade: por pôr fotografias de bikini no instagram ou correr atrás de alguém.


Ontem li-me aos olhos da Susana e percebi! Nós não mudamos: o que muda é a forma como as pessoas olham para nós.
Eu não mudei. Ele é que deixou de me ver como noutra altura.

Creio que me via da mesma forma que a Susana me vê. Mas deixou de ver.

Odeio - odeio mesmo - generalizações. Sei que tenho um quê - um qualquer quê de diferente - e que andava esquecido.
Ontem reconheci-o na forma como a Susana me vê e é isto! Simplesmente isto! A razão de ter um blog. Este blog.
Fez parte da minha terapia, do meu processo. Foi a minha mudança como pessoa e a forma de me salvar.

Isto é aquilo em que acredito. O nome piroso das coisas que salvam.
Porque há sempre um lado bonito em alguma coisa.

Porque nem tudo é fútil. Nem tudo é noite. Nem tudo são calções curtos e decotes. Nem tudo são ciúmes. Nem tudo são casos sem amor. Nem tudo são jovens sem responsabilidades. Nem tudo são festas. Nem tudo é vazio. Nem tudo são roupas ou formas de vestir. Porque nem tudo são modas. Nem tudo são ciúmes. Nem tudo são as "amiguinhas" do rapaz que gostamos. Nem tudo são obsessões. Nem tudo é a aparência.

Há muito mais para além disso.
Há gestos que mudam mundos. Há pessoas de confiança. Há uma beleza indiscritível no silencio da Serra da Arrábida ou na magia da vila de Porto Covo. Há livros que nos constroem e músicas que nos marcam sempre.
Há sorrisos.
Há muito mais para além de uma Lisboa cheia de não-lugares.

Isto é aquilo em que acredito. Isto sou eu. Por mais piroso ou sonhador que seja - é a forma como vemos o mundo que nos distingue. Mesmo quando me perco entre um verão presa a um trabalho que não gosto e obcecada por uma opinião de alguém que já não vê o melhor de mim, e me esqueço, realmente do que sou... Este livro será sempre o que me lembrará: do que sou, do que quero e do que me distingue. Obrigada por veres o melhor de mim!




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